

- COTIDIANO / CAOS NA SAÚDE
04.10.09 | 08h25 - Atualizado em 04.10.09 | 08h34
- CRM acha mais de 100 falhas graves no Pronto-Socorro
- Problemas estão em UTIs, Box de Emergência e até no Centro Cirúrgico e oferecem riscos aos pacientes
ANTONIELLE COSTA
DA REDAÇÃO
O Conselho Regional de Medicina (CRM), por meio da 1ª secretária Ana Lúcia Guedes Motinha, entregou ao prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB), na semana passada, um relatório com as irregularidades encontradas pelos fiscais do conselho, durante vistoria no Hospital e Pronto-Socorro Municipal.
A entrega foi realizada na rodada de negociações entre os médicos e a Prefeitura Municipal, realizada no último dia 30 de setembro. O relatório também foi entregue ao presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Luiz Carlos Alvarenga.
O relatório apresenta uma situação inusitada na unidade sanitária: ao invés de garantir a saúde dos pacientes, coloca a vida de cada um em risco. A situação é preocupante, uma vez que, em todos os setores do Pronto-Socorro, foram detectadas irregularidades - em muitos casos, graves.
Os problemas são detectados em locais estrarégicos, como UTIs, Centro Cirúrgico e box de Atendimento de Emergência.
Confira a lista com as principais irregularidades:
UTI Adulto I
Fios e instalação elétrica expostos, dentro da UTI e próximo aos leitos de internação;
Os utensílios de metal (suporte de soro) estão com ferrugem em grande quantidade, desde a extremidade para colocação dos soros até a sua base;
A sala de expurgo de materiais não apresenta conformidade com as normas da Vigilância Sanitária. A pia para expurgo de materiais está em péssimas condições, com infiltração na parede, resíduos líquidos (entupida) e materiais (luvas) boiando no seu interior, além de ferrugem em grande parte de sua estrutura de metal;
Não há capnógrafo, monitor de pressão intracraniana, monitor de debito cardíaco. Há um cilindro de oxigênio de reserva e para transporte, há um conjunto de eletrodos de marca-passo provisório apenas. Não foi encontrado no local, cânulas de Guedel;
Os medicamentos psicotrópicos são armazenados em armários abertos, sem chave, sem controle de prescrição e de utilização. Não há controle de data de vencimento dos medicamentos estocados;
UTI Adulto II
Presença de eletrodos em suporte para lâmpadas, na parede, expondo a riscos de choque elétrico e contaminação;
As janelas do corredor da UTI estão abertas e há pássaros pousados nas mesmas, aumentando o risco de doenças especificas e contaminação do ambiente;
Ausência de cilindro de oxigênio de reserva e para transporte de pacientes;
Falta capnógrafo, marca passo provisório, monitor de pressão intracraniana, monitor de debito cardíaco;
A disposição dos leitos permite a observação continua de apenas quatro pacientes ininterruptamente. Não há monitor único no posto de enfermagem, que registre as condições de parâmetros vitais de todos os pacientes;
Os medicamentos psicotrópicos são armazenados em armários abertos, sem chave, sem controle de prescrição e de utilização. Não há controle de data de vencimento dos medicamentos estocados.
UTI Pediátrica e Neonatal
Ausências de equipamentos suficientes para operacionalizar os leitos da UTI estão sem condições de funcionar 04 leitos da UTI Neonatal e 10 da UTI Pediátrica;
Infiltração no teto da UTI Pediátrica;
O carrinho de emergência não tem lacre, e não tem equipamentos de reanimação cardiopulmonar;
As condições de armazenamento de medicamentos na farmácia da UTI não são adequadas;
Na UTI neonatal apenas quatro leitos estão em funcionamento devido à falta de recursos humanos (enfermagem e auxiliares), sendo que os seis leitos restantes estão desativados, apesar de aparentemente equipados. Os equipamentos estão armazenados dentro da própria UTI.
Centro de Tratamento de Queimados
Não há equipamentos de suporte e manutenção de condições vitais no CTQ: não há respirador, capnógrafo, marca passo provisório, monitor de pressão não invasiva, monitor de PIC, monitor de DC. Existe apenas um cardioscópio, um oximetro, uma bomba de infusão e um negatoscópio;
Não há médico plantonista na unidade;
A farmácia satélite da UTI não apresenta condições adequadas de armazenamento de medicamentos;
Não há climatização na área de circulação comum do CTQ;
A sala de curativos para atendimento de pacientes ambulatoriais está inadequada, fora dos padrões definidos: os curativos são feitos sobre a maca da pia da sala. O espaço físico da sala é pequeno para atendimento e circulação de pacientes.
Centro Cirúrgico
Não há leitos fixos de recuperação pós-anestésica, os pacientes em recuperação ficam em macas. Porém: as macas são apenas duas, sem proteção lateral; não há espaço físico adequado para a colocação de duas macas no espaço reservado para RPA; não há monitores ou espaço para colocação dos mesmos quando os pacientes estão na fase de recuperação pós-anestésica; A sala 03 ou C funciona somente para procedimentos contaminados, não havendo qualquer tipo de barreira física ou isolamento em relação às demais salas;
Na sala 1 (A) do Centro Cirúrgico havia respingos de sangue no teto da sala, junto a lateral direita do foco, em moderada quantidade;
Em um dos corredores, dentro do centro cirúrgico há um armário de metal, com as portas enferrujadas parcialmente e abertas onde estão guardados equipamentos de neurocirurgia (arco craniano e faixas). Há caixa de metal onde se pode ler "furadeira - formalima";
A rede de gases é monitorada por alarmes dentro do centro cirúrgico, porém a rede de ar comprimido está com o alarme visual (luz vermelha) disparado e não tem sinal sonoro (desligado ou quebrado) o que impossibilita a imediata conduta em caso de falta de pressão ou outro problema na rede;
Há medicamentos e materiais com prazo de validade vencido dentro do centro cirúrgico, como antibióticos, sondas vesicais, cânulas de intubação orotraqueal e drenos de tórax.
Box - Cirúrigica e Clínica
Na enfermaria da Pediatria ficou constatado que não há balança compatível com crianças acima de 15 kg. Existe uma pequena balança para neonatos, em condições precárias de higiene e proteção, colocada sobre uma mesa, no corredor da enfermaria;
Medicamentos diluídos, preparados, acondicionados em geladeira, vedados com esparadrapo, em condições de higiene precárias, porém, dentro do recomendado pelas normas para diluição e infusão de doses pediátricas;
Na farmácia da enfermaria da Clínica Médica e do Box de Emergência (setor de trauma) foram encontrados vários medicamentos com prazo de validade vencido;
No Box de emergência as macas não têm proteção lateral (nenhuma das cinco macas que estavam no local); há pacientes deitados em macas nos corredores, em observação ou aguardando atendimento e as caixas para descarte de materiais perfuro-cortantes estão abertas e com excesso de conteúdo, favorecendo acidentes e em desacordo com normas da ANVISA.
Outro lado
Ao tomar conhecimento das irregularidades, MidiaNews procurou o prefeito Wilson Santos e o secretário municipal de Saúde, Luiz Soares, mas ambos não atenderam às ligações telefônicas. As respectivas assessorias prometeram retorno, mas, até a edição da matéria, o site não recebeu nenhum comunicado.
Se a moda pega não vai sobrar nenhum Pronto Socorro para o povo.
· COTIDIANO / DESCASO E OMISSÃO
02.10.09 | 11h35 - Atualizado em 02.10.09 | 11h46
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· Pronto-Socorro sem médicos; Saúde vira um caos
· Os casos de média e baixa complexidade serão atendidos nas policlínicas da Capital
ANTONIELLE COSTA
DA REDAÇÃO
Os casos de urgência e emergência atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Cuiabá, deverão ser encaminhados para o Hospital e Pronto-Socorro de Várzea Grande. Os casos menos graves serão atendidos nas policlínicas da Capital.
A orientação foi repassada na manhã desta sexta-feira (2) ao Samu pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, em função do término do aviso prévio de 23 médicos. Segundo informações da assessoria de imprensa da Saúde, deixaram de atender, hoje, 20 médicos cirurgiões do Box de Emergência, dois clínicos do Pronto-Atendimento Adulto e um do Posto de Saúde da Família (PSF).
O prefeito Wilson Santos (PSDB), aparentemente, está tranquilo, apesar do caos que se estabeleceu na Saúde Pública da Capital. Em entrevista ao MidiaNews, nesta sexta-feira (2), o secretário municipal de Comunicação Social, Flávio Garcia, afirmou que teve um conversa com o prefeito sobre o assunto, mas ele disse estar tranquilo, uma vez que, para a prefeitura, os 23 demissionários não são todos cirurgiões. Além disso, Garcia revelou que questinou o prefeito sobre a Imprensa e ele teria dito que "era para procurar o secretário Luiz Soares".
O prefeito tucano, segundo sua assessoria, não vai se pronunciar sobre o assunto. Já o secretário Luiz Soares deverá emitir uma nota oficial ou conceder uma entrevista coletiva ainda hoje, para falar sobre questão, de acordo com sua assessoria.
Divergências
O impasse entre a Prefeitura Municipal e o Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed) faz com que haja, inclusive, uma divergência nas especialidade dos demissionários. Para o sindicato, 23 dos 27 médicos cirurgiões do Pronto-Socorro deixaram de atender a partir de hoje. Para a prefeitura, são 23 profissionais, entre cirurgiões e clínicos.
O problema deverá se agravar na próxima semana, uma vez que 44 profissionais, entre pediatras e clínicos que haviam solicitado demissão no último dia 3, irão discutir se vão continuar atendendo. Além disso, o Pronto-Socorro será fechado para reforma no dia 13 de outubro, transferindo a demanda para Várzea Grande.
Situação delicada
Segundo a secretária de Saúde de Várzea Grande, Jaqueline Guimarães, a situação no setor é delicada, uma vez que o atendimento na cidade vizinha está precário, justamente porque os médicos do Pronto-Socorro local também estão em greve.
"Não temos como atender à demanda de toda a Baixada Cuiabana, pois os nossos médicos aderiram à paralisação e, hoje, a situação é precária. Esse problema deve ser solucionado o mais rápido possível, para que a população não sofra com isso", afiirmou a secretária.
Em Cuiabá
Em assembleia-geral realizada na quarta-feira (30), os médicos rejeitaram a nova proposta feita pelo prefeito Wilson Santos, de implantar um novo Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS), em regime de urgência. Além disso, os profissionais irão manter a paralisação e os pedidos de demissão, segundo informações do presidente do Sindimed, Luiz Carlos Alvarenga.
Em Várzea Grande
A secretária Jaqueline Guimarães afirmou que aguarda uma resposta do prefeito Murilo Domingos (PR) para que possa fazer uma nova contraproposta aos profissionais da Saúde. Além disso, destacou que os médicos ameaçaram apresentar pedidos de demissão na próxima segunda-feira (5).
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