sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Casos de dengue crescem mais de 100% nas primeiras seis semanas do ano










26/02/2010 - 07h00

Brasil tem surtos de doenças e epidemias por atuar apenas de forma emergencial, diz sanitarista.

Guilherme Balza 
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Combate e prevenção a surtos e epidemias no Brasil são eficientes?


Após dois anos de incidência moderada do vírus da dengue, o Brasil volta a ver a quantidade de casos de a doença alcançar patamares elevados e o número de mortes crescerem a cada dia. A situação é mais grave nos Estados do Centro-Oeste, no Distrito Federal, além de Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo (principalmente na Baixada Santista e em Ribeirão Preto). Na Bahia, o surto não é de dengue, e sim de meningite, que já infectou 20 pessoas e causou seis mortes neste ano. Além da meningite e da dengue, outras doenças tropicais como a malária, a leishmaniose e a esquistossomose ainda provocam centenas de mortes por ano e fazem milhares de vítimas, sobretudo entre a população carente. Para o médico e sanitarista Almério de Castro Gomes, doutor em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo) e professor titular da mesma universidade, o país não investe na vigilância e atua a reboque dos surtos e epidemias. “A prioridade não pode ser a atuação emergencial, esperar acontecer para correr atrás. O enfrentamento a essas doenças requer um tipo de programa com continuidade, com vigilância permanente. Enquanto não houver uma mudança no paradigma, tratar-se a causa, não a doença, essas epidemias serão recorrentes”, afirma.
Dengue
Somente entre o início do ano e a primeira quinzena de fevereiro deste ano, a dengue matou 14 pessoas e infectou quase 42 mil nos três Estados do Centro-Oeste e no Distrito Federal. Outras 20 mortes nesses Estados estão sob investigação. Em apenas seis semanas de 2010, o número de casos de dengue confirmados representa cerca de 30% de todos os casos registrados em 2009 (125.722) e 65% dos contabilizados em 2008 (65.610).
No Estado de São Paulo, a Baixada Santista viu os casos de dengue saltarem de 33 no final de janeiro para 611 no último dia 23. Só no Guarujá há 312 casos de dengue confirmados neste ano e outros 660 aguardando a confirmação. Em todo o ano passado, foram registrados 81 casos na cidade. Até o momento foram confirmadas na baixada três mortes por dengue - duas no Guarujá e uma em Santos. Já em Ribeirão Preto (SP), o total de casos de dengue nesse ano (1.688) já supera os do ano passado inteiro (1.674). Na região Sul do país, foram confirmados 530 casos no Paraná nesse início de ano, contra 893 em 2009, e o primeiro registro de  morte por dengue hemorrágica, em Londrina. Já no Rio Grande do Sul, o Hospital de Caridade da cidade de Ijuí (400 km de Porto Alegre) registrou nessa quinta-feira (25) o primeiro caso de dengue hemorrágica no Estado em três anos. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, sete casos da doença foram confirmados e outros 184 estão sob suspeita. “A dengue é uma doença difícil de combater, que não se enfrenta na base do imediatismo. São necessárias ações continuas, porque se for interrompido o combate por dois ou três meses, por exemplo, todo o trabalho anterior se perde. Isso desanima os gestores públicos”, diz o sanitarista.
Meningite
O Ministério da Saúde não tem um número consolidado de casos de meningite no Brasil nestas primeiras semanas de 2010, mas a quantidade de casos e mortes na Bahia já é considerável. Até o dia 9 de fevereiro, a Secretaria da Saúde da Bahia confirmou 20 casos da doença, com cinco mortes. Em 2009, foram 194 casos, com 20 óbitos. A quantidade de casos e óbitos por meningite vem sofrendo uma sensível redução na última década, mas o número de vítimas ainda é elevado. Em 2000, foram 5.019 casos, com 941 mortes. Já em 2008, o Ministério da Saúde contabilizou 2.555 casos, com 500 óbitos. “A meningite aparece anualmente, de forma sazonal. Essa doença requer um estudo longitudinal para ser melhor compreendida. A academia produz trabalhos belíssimos sobre essa patologia, mas eles não são aplicados pelo poder público”, diz Almério de Castro Gomes.
Outras doenças
Se os casos de meningite diminuíram, os de esquistossomose cresceram entre 1995 e 2007 – período em que o Ministério da Saúde contabilizou os dados. Em 1995 eram 9.995 casos, número que saltou para 112.334 dois anos depois. De 1997 a 2007, o número de casos nunca esteve abaixo dos 76 mil. No mesmo período, ocorreram, em média, 500 mortes por ano. Depois da esquistossomose e da dengue, as doenças tropicais que mais matam no Brasil são a leishmaniose e a malária. Entre 2000 e 2008 ocorreram, em média, 3.000 casos de leishmaniose por ano, com cerca de 200 óbitos em cada ano. O Nordeste concentra a maioria de vítimas. Já a malária, que atinge os Estados da Amazônia, registrou 314 mil casos em 2008, com 67 óbitos. Para Castro Gomes, o poder público nas esferas municipal, estadual e federal é responsável pelo alto número de vítimas e falha ao se distanciar das pesquisas acadêmicas. “O poder público procura a academia para resolver determinados problemas, mas não há uma política de integração. Temos muitos pesquisadores ótimos que não são aproveitados”, diz. De acordo com ele, a figura do sanitarista, do profissional da saúde pública coletiva, perdeu força a partir do final da década de 70. “Hoje não se dispõe desse sanitarista, que seria o médico da comunidade. A medicina tradicional vê o pessoal, o individual. Para a saúde pública o paciente é a comunidade toda”, afirma. Ainda segundo Castro Gomes, o Estado deveria incentivar a comunidade a compreender seu papel diante de surtos e epidemias, como a do vírus da dengue. “O ambiente somos nós, as pessoas, as relações. O ambiente não é estático, é dinâmico. O indivíduo interfere no ambiente e precisa se colocar como parte do ambiente para refletir e agir”, afirma.


26/02/2010 - 16h03

Casos de dengue crescem mais de 100% nas primeiras seis semanas do ano.

Do UOL Notícias*
Em São Paulo.

Atualizado às 16h57
Nas primeiras seis semanas deste ano, o número de casos de dengue cresceu mais de 100% em relação a 2009. Entre 1° de janeiro e 13 de fevereiro foram registrados 108.640 casos em todo país, contra 51.873 do ano passado. De acordo com o Ministério da Saúde, as chuvas e as altas temperaturas contribuem para o aumento de casos, já que facilitam a reprodução do mosquito Aedes aegypt. Outro fator que ajudou a elevar o número de casos é a recirculação da dengue do tipo 1, que teve mais intensidade no fim da década de 80, segundo o coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue, Giovanini Coelho. “Quando você tem uma população que nunca foi exposta a determinado tipo de vírus, a chance de epidemia é muito grande. E temos uma parcela da população que não teve contato com esse vírus. São crianças e adultos jovens que nasceram após esse período em que houve maior circulação do tipo 1”, explicou Coelho. Segundo o balanço do Ministério da Saúde, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Acre, Mato Grosso e Goiás concentram 71% dos casos, ou 77.117 notificações. Esses Estado registram índices de incidência elevados, que vão de 423,2 a 891,7 casos por 100 mil habitantes. A maior incidência da dengue está no Mato Grosso, que registrou 891,7 casos a cada 100 mil habitantes. No Acre foram 870,4 mil a cada grupo de 100 mil pessoas, em Rondônia a incidência é de 642,3, no Goiás 423,2 e no Mato Grosso 511,8. Os dados são referente às primeiras seis semanas de 2010. Já Minas Gerais tem 15.626 casos de dengue e uma taxa de incidência de 78 para 100 mil habitantes. Em São Paulo e no Distrito Federal foram registrados, respectivamente, 2.930 e 1.167 casos. Em comparação ao ano passado, o Ministério da Saúde destacou o aumento das notificações em São Paulo (589%), Minas Gerais (119%) e Distrito Federal (394%). Foram registradas nesse ano 21 mortes, contra 32 em 2009. Mas os números podem aumentar porque alguns óbitos ainda não foram confirmados como casos de dengue. “Esses dados obviamente nos preocupam, mas eles se concentram em cinco estados da federação, demonstrando nesse momento uma concentração da doença na região Centro-Oeste e Norte do país”, disse. De acordo com Coelho, mesmo com a concentração de casos nesses Estados, todas as unidades da federação devem estar “em alerta”. “Existe uma situação de vulnerabilidade no país como um todo. É preciso alertar para a necessidade de intensificação das medidas de prevenção, tanto pelos gestores estaduais e municipais quanto pela população”, afirmou. *Com informações da Agência Brasil




























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